segunda-feira, 26 de fevereiro de 2024

Aminoácidos em Nutrição Parenteral Infantil

A utilização de aminoácidos depende de uma ingestão suficiente de energia e, muitas vezes, de um fornecimento de energia de 30 a 40 kcal por 1 g de aminoácidos/dia.

A necessidade de aminoácidos é menor em bebês e crianças alimentados por via parenteral do que naqueles alimentados por via enteral porque o suprimento passa pelo intestino. 

AMINOÁCIDO

REQUISITOS (mg/kg/dia)

            Tirosina                              Metionina + Cisteína                             Treonina                 Lisina

74
47
38
105

A ingestão de aminoácidos deve ser iniciada desde o primeiro dia de vida, ou, melhor ainda, o mais rápido possível após nascimento para evitar o “choque metabólico” causado pela interrupção da alimentação contínua que ocorre no útero. 


Figura 1. Aminoven® a 10 e 15% (Fresenius-Kabi) 

A administração aminoacídica precoce, em bebês prematuros, resulta em aumento da síntese proteica sem diminuição da proteólise [22].
 

No geral, o aporte aminoacídico inicial, quando comparado à administração isolada de glicose, está associado à melhoria do crescimento a curto prazo. Muito menos se sabe sobre os efeitos e resultados a longo prazo, como o crescimento e o neurodesenvolvimento. 

Recomendação 1

Em bebês prematuros, o fornecimento de aminoácidos deve começar no 1º dia pós-natal com uma oferta de pelo menos 1,5 g/kg/dia para se atingir um estado anabólico.

Recomendação 2

Em bebês prematuros, a ingestão parenteral de aminoácidos desde o 2º dia de período pós-natal em diante deve estar entre 2,5 g/kg/d a 3,5 g/kg/d e deve ser acompanhada por ingestão não proteica >65 kcal/kg/dia e ingestão adequada de micronutrientes.

Recomendação 3

Em bebês prematuros, a ingestão EV de aminoácidos acima de 3,5 g/kg/dia só deve ser realizada como parte de ensaios clínicos.

Estudos mostram que uma ingestão média de 0,9 a 2,65 g/kg/dia resulta em um balanço nitrogenado positivo, com uma ingestão de energia tão baixa como de 30 kcal/kg/dia. 

Opções no mercado Nacional: 

No mercado nacional está disponível:

1. Aminoven®, da Fresenius-Kabi alemã  que possui 40 g de tirosina/L de solução a 10%, 1 g/L de taurina, 12 g/L de arginina mas não possui cisteína (Figura 1).

2. Primene® a 10%, da Baxter com 0,045 g de tirosina/L, 0,060 g de taurina, 0,84 g/L de arginina e 0,19 g/L de cisteína

3. Amixal®, da B. Braum, que contém 40 g de tirosina/L de solução a 10%, 11,5 g de arginina mas não possui taurinacisteína

4. Aminoácidos Essenciais a 10% com Histidina® da empresa Farmoterápica possui todos os 4 aminoácidos: tirosina, arginina, taurina, cisteína e glutamina.

Necessidades específicas de aminoácidos durante a NP total: 

CISTÉINA - a cisteína é considerada um aminoácido semi-essencial no período neonatal, indicando que a cisteína precisa ser administrada para contornar sua baixa síntese com subsequentemente baixos níveis plasmáticos e síntese proteica prejudicada em certas circunstâncias. Normalmente é sintetizada a partir de metionina serina. 

A estabilidade da cisteína é baixa em solução, tornando difícil fornecer o suficiente para a criança. No entanto, é possível adicionar cisteína-HCL à solução de aminoácidos imediatamente antes da administração ao lactente. A cistina (o produto de oxidação de duas  moléculas de cisteína combinadas) é estável, mas tem baixa solubilidade, tornando-o inadequado como alternativa à cisteína. A cisteína é aprovada para administração de NP em bebês prematuros.

Recomendação 4

Cisteína (50-75 mg/kg/d) deve ser administrada aos neonatos prematuros. Quantidades mais altas não melhoram os resultados.

A cisteína é um importante substrato para a glutationa, um tripéptido (ácido glutâmico/cisteína/glicina) com importantes propriedades antioxidantes, mas também importante na manutenção do potencial redox e da homeostase do cálcio

São necessários ECRs sobre a eficácia clínica e metabólica da L-cisteína adicionada à nutrição parenteral em adultos ou crianças.

TIROSINA - a tirosina é considerada um aminoácido semi-essencial no período neonatal. Devido ao comprometimento neurológico conhecido causado por hipertirosinemia ao cérebro em desenvolvimento, a ingestão excessiva deve ser evitada. Há uma escassez de dados em prematuros para tirar quaisquer conclusões firmes sobre os limites superiores aconselháveis de ingestão de tirosina.

Recomendação 5

O limite inferior de ingestão de tirosina deve ser de pelo menos 18 mg/kg por dia em bebês prematuros.

Recomendação 6

A ingestão aconselhável de tirosina em bebês a termo é de 94 mg de tirosina/kg por dia

GLUTAMINA - 

Recomendação 7

A glutamina não deve ser suplementada adicionalmente em bebês e crianças até aos dois anos.

TAURINA - a taurina não é um aminoácido típico porque, embora contenha um grupo amino, não possui o grupo carboxila. A deficiência de taurina pode aumentar os ácidos biliares glicoconjugados e resultar em colestase. Embora a causa da colestase neonatal é provavelmente multifatorial, existem dados que indicam que a taurina adequada pode prevenir a colestase em neonatos. Além disso, a deficiência de taurina pode resultar em disfunção da retina. 

A taurina é sintetizada a partir da metionina e da cisteína e uma NP prolongada em crianças com solução parenteral sem cisteína e taurina resultam em níveis reduzidos de taurina plasmática. A suplementação de taurina (3 mg/g AA) manteve as concentrações plasmáticas de taurina dentro do intervalo de referência em bebês a termo, mas não em bebês de muito baixo peso ao nascimento. A suplementação de cisteína (50-100 mg/kg/dia) normaliza as concentrações de taurina em crianças de 7 anos com síndrome do intestino curto.

Recomendação 8

A taurina deve fazer parte das soluções de aminoácidos para lactentes e crianças, embora nenhuma recomendação firme possa ser feita sobre limites inferiores ou superiores.

ARGININA - a arginina é o substrato para a produção de óxido nítrico (um potente vasodilatador), importante para a homeostase da glicose. A suplementação de arginina, cujos níveis plasmáticos séricos baixos observado em neonatos prematuros, pode prevenir a enterocolite necrosante (ECN). Além disso, a depleção de arginina está relacionada ao efeito inato de imunossupressão que ocorre em modelos recém-nascidos de bactérias, prejudicando vias críticas para a resposta imunológica. A suplementação de arginina foi bem tolerada e resultou em diminuição significativa na incidência de ECN (todos os estágios).

Recomendação 9

A suplementação de arginina pode ser usada para prevenção de ECN em bebês prematuros.

FONTE:

1. JB van Goudoever et al. ESPGHAN/ESPEN/ESPR Guidelines on Pediatric parenteral nutrition: Amino acids .Clinical Nutrition 2018;37(6):2315-2323.

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