Estudo valida a importância da
Mastigação no Controle do Peso
Dr. Claudio Barbosa
Médico nutrólogo do Santa Genoveva
Complexo Hospitalar-Uberlândia=MG
O Fletcherismo revisitado
Publicado no mês de fevereiro de 2011,
na conceituada revista médica Appetite,
um estudo procurou avaliar o impacto da mastigação no controle da ingesta
alimentar e, por conseguinte, no controle do peso.
Este estudo avaliou a tese de Horace
Fletcher (1849-1919) cuja doutrina consistia em mastigar cada garfada
exaustivamente de forma a se evitar o ganho de peso.
Nesse estudo, procurou-se testar essa
hipótese através da monitorização do comportamento mastigatório, utilizando a
eletromiografia.
Comparando 35 com 10 mastigações por
bocado, demonstrou-se que mastigar mais reduziu a ingestão alimentar, apesar de
aumentar a velocidade da mastigação. Notou-se também ter havido uma favorável
duplicação da duração da refeição capaz de atingir um ponto de referência para
o sentimento subjetivo de ‘confortavelmente cheio`.
Os pesquisadores concluíram que embora
esse estudo possa ser limitado por uma reduzida dimensão da amostra, os
resultados preliminares confirmam a doutrina de Fletcher, e fornece uma base
para novas pesquisas nesta área [1].
A Saga de Horace Fletcher
Horace Fletcher foi um vendedor
americano, que por volta dos seus 40 anos, encontrava-se inapto ao trabalho e
praticamente senil. [2] Seu pedido de seguro de vida tinha sido preterido.
Vários tratamentos médicos haviam falhado. Então, seguindo um conselho de um
amigo que gozava particularmente de uma boa saúde, começou a mastigar e
insalivar sua comida tão completamente que ela estava quase liqüefeita ao
atingir o estômago. Para alcançar isso ele mastigava cerca de 2.500 vezes por
refeição.
Gradualmente seu esôfago passou a
recusar aquilo que não fora bem mastigado e insalivado (melhoraram seu reflexo
de deglutição e de engasgo) e se sentia saciado com menos comida (seu reflexo
da saciedade melhorou). Esta satisfação também durou mais tempo. O seu desejo
por alimentos ricos em proteína, apimentados, doces, álcool, café e chá
diminuíram e ele passou a preferir uma variedade de alimentos simples e
naturais (sua seletividade aprimorou-se). Seus amigos preocupados ficaram
alarmados com sua perda de peso e disseram a Fletcher que ele não parecia bem.
Ele, porém se orgulhava disso.
Após 5 meses de disciplinada
mastigação, suas queixas haviam desaparecido e sua sensação de bem-estar estava
o tempo todo elevada. Ele quebrou records de força e resistência quando tinha
50, até mesmo 60 anos de idade, e isso com uma dieta de 1600 calorias, ao invés
das 3400 cal/dia recomendadas oficialmente naquela época.
Testes realizados por vários
cientistas e nutrólogos mostraram que seu metabolismo estava bem equilibrado e
que ele tinha bom tônus e resistência muscular.
Fletcher foi examinado pelos Prof.
Foster e Gowland-Hopkins da Universidade de Cambridge, pelos prof.
Pickering-Bowditsch e Chittenden da Universidade de Yale e pelo prof. Fisher
dentre outros [3].
Como os resultados de Fletcher não
podem ser esperados em todo e qualquer caso, não podemos objetivamente
recomendar este regime. Na verdade, a simples mastigação e insalivação dos
alimentos de forma apropriada pode aliviar o sistema digestivo e, portanto,
traz uma melhoria fundamental na saúde global [2].
Um estudo de 2008 do Journal of Gastroenterology
and Hepatology procurou demonstrar a relação entre a mastigação e as doenças
gastrintestinais. O estudo concluiu que há uma elevada incidência de queixas
digestivas nos pacientes com déficits dentais e que a melhora destes sintomas após
a recuperação mandibular suporta o fato de que falhas mastigatórias podem levar
ao surgimento de sintomas digestivos [4].
Comer rápido pode engordar. Um estudo
realizado com 3.287 pacientes no Japão e publicado no British Medical Journal mostrou
bem isto. Este estudo seccional cruzado analisou o impacto de se comer rápido e
de se saciar completamente na gênese da obesidade. Pôde-se perceber claramente
que “comer até sentir-se plenamente satisfeito e comer rápido está associado
com sobrepeso em homens e mulheres japonesas, e este comportamento alimentar
pode ter um impacto substancial no desenvolvimento da obesidade”. Quase metade
dos voluntários disse que tinha a tendência a comer rapidamente. Comparados com
quem não comia rapidamente, os homens com este hábito tinham 84% mais chances de
estarem acima do peso e as mulheres tinham duas vezes mais chances. Além disso,
aqueles que, além de comerem rapidamente tinham a tendência de comer até se
sentirem “cheios”, tinham mais do que o triplo de risco de estarem acima do
peso. A maneira como comemos está cada vez mais sendo vista como uma área-chave
em pesquisas sobre obesidade, especialmente desde a publicação de estudos
destacando a existência de uma variante genética ligada à “sensação de estar
cheio”. Um estudo publicado recentemente no Journal of Psychopharmacology
concluiu que um remédio usado contra a obesidade funcionava ao desacelerar o
ritmo no qual pacientes obesos comiam [5].
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
[1] Smita HJ, Kemsleyb EK, Tapp HS
and Henry CJK. Does prolonged chewing reduce food intake? Fletcherism
revisited. doi:10.1016/j.appet.2011.02.003.
[2]
Rauch, E. Die Darmreinigung nach Dr. med. FX Mayr. Heidelberg: Haug, 2001.
[3]
Fletcher, H. How I Became Young at 60. Edmund Demme Verlag, Leipzig 1924.
[4]
Poitras, PMP: Gastrointestinal symptoms and masticatory dysfunction. Journal of Gastroenterology and
Hepatology. v. 7, pp. 61–65, 1992.
[5] Barbosa, CL: Mastigação, um
poderoso aliado da Dietoterapia. 1ª ed. Itu-SP: Ottoni, 2009.
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