sexta-feira, 13 de janeiro de 2017


Estudo valida a importância da Mastigação no Controle do Peso
Dr. Claudio Barbosa
Médico nutrólogo do Santa Genoveva
Complexo Hospitalar-Uberlândia=MG
O Fletcherismo revisitado
Publicado no mês de fevereiro de 2011, na conceituada revista médica Appetite, um estudo procurou avaliar o impacto da mastigação no controle da ingesta alimentar e, por conseguinte, no controle do peso.
Este estudo avaliou a tese de Horace Fletcher (1849-1919) cuja doutrina consistia em mastigar cada garfada exaustivamente de forma a se evitar o ganho de peso.
Nesse estudo, procurou-se testar essa hipótese através da monitorização do comportamento mastigatório, utilizando a eletromiografia.
Comparando 35 com 10 mastigações por bocado, demonstrou-se que mastigar mais reduziu a ingestão alimentar, apesar de aumentar a velocidade da mastigação. Notou-se também ter havido uma favorável duplicação da duração da refeição capaz de atingir um ponto de referência para o sentimento subjetivo de ‘confortavelmente cheio`.
Os pesquisadores concluíram que embora esse estudo possa ser limitado por uma reduzida dimensão da amostra, os resultados preliminares confirmam a doutrina de Fletcher, e fornece uma base para novas pesquisas nesta área [1].
A Saga de Horace Fletcher
Horace Fletcher foi um vendedor americano, que por volta dos seus 40 anos, encontrava-se inapto ao trabalho e praticamente senil. [2] Seu pedido de seguro de vida tinha sido preterido. Vários tratamentos médicos haviam falhado. Então, seguindo um conselho de um amigo que gozava particularmente de uma boa saúde, começou a mastigar e insalivar sua comida tão completamente que ela estava quase liqüefeita ao atingir o estômago. Para alcançar isso ele mastigava cerca de 2.500 vezes por refeição.

Gradualmente seu esôfago passou a recusar aquilo que não fora bem mastigado e insalivado (melhoraram seu reflexo de deglutição e de engasgo) e se sentia saciado com menos comida (seu reflexo da saciedade melhorou). Esta satisfação também durou mais tempo. O seu desejo por alimentos ricos em proteína, apimentados, doces, álcool, café e chá diminuíram e ele passou a preferir uma variedade de alimentos simples e naturais (sua seletividade aprimorou-se). Seus amigos preocupados ficaram alarmados com sua perda de peso e disseram a Fletcher que ele não parecia bem. Ele, porém se orgulhava disso.
Após 5 meses de disciplinada mastigação, suas queixas haviam desaparecido e sua sensação de bem-estar estava o tempo todo elevada. Ele quebrou records de força e resistência quando tinha 50, até mesmo 60 anos de idade, e isso com uma dieta de 1600 calorias, ao invés das 3400 cal/dia recomendadas oficialmente naquela época.
Testes realizados por vários cientistas e nutrólogos mostraram que seu metabolismo estava bem equilibrado e que ele tinha bom tônus e resistência muscular. 
Fletcher foi examinado pelos Prof. Foster e Gowland-Hopkins da Universidade de Cambridge, pelos prof. Pickering-Bowditsch e Chittenden da Universidade de Yale e pelo prof. Fisher dentre outros [3].
Como os resultados de Fletcher não podem ser esperados em todo e qualquer caso, não podemos objetivamente recomendar este regime. Na verdade, a simples mastigação e insalivação dos alimentos de forma apropriada pode aliviar o sistema digestivo e, portanto, traz uma melhoria fundamental na saúde global [2].
Um estudo de 2008 do Journal of Gastroenterology and Hepatology procurou demonstrar a relação entre a mastigação e as doenças gastrintestinais. O estudo concluiu que há uma elevada incidência de queixas digestivas nos pacientes com déficits dentais e que a melhora destes sintomas após a recuperação mandibular suporta o fato de que falhas mastigatórias podem levar ao surgimento de sintomas digestivos [4].
Comer rápido pode engordar. Um estudo realizado com 3.287 pacientes no Japão e publicado no British Medical Journal mostrou bem isto. Este estudo seccional cruzado analisou o impacto de se comer rápido e de se saciar completamente na gênese da obesidade. Pôde-se perceber claramente que “comer até sentir-se plenamente satisfeito e comer rápido está associado com sobrepeso em homens e mulheres japonesas, e este comportamento alimentar pode ter um impacto substancial no desenvolvimento da obesidade”. Quase metade dos voluntários disse que tinha a tendência a comer rapidamente. Comparados com quem não comia rapidamente, os homens com este hábito tinham 84% mais chances de estarem acima do peso e as mulheres tinham duas vezes mais chances. Além disso, aqueles que, além de comerem rapidamente tinham a tendência de comer até se sentirem “cheios”, tinham mais do que o triplo de risco de estarem acima do peso. A maneira como comemos está cada vez mais sendo vista como uma área-chave em pesquisas sobre obesidade, especialmente desde a publicação de estudos destacando a existência de uma variante genética ligada à “sensação de estar cheio”. Um estudo publicado recentemente no Journal of Psychopharmacology concluiu que um remédio usado contra a obesidade funcionava ao desacelerar o ritmo no qual pacientes obesos comiam [5].

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
[1] Smita HJ, Kemsleyb EK, Tapp HS and Henry CJK. Does prolonged chewing reduce food intake? Fletcherism revisited. doi:10.1016/j.appet.2011.02.003. 
[2] Rauch, E. Die Darmreinigung nach Dr. med. FX Mayr. Heidelberg: Haug, 2001.
[3] Fletcher, H. How I Became Young at 60. Edmund Demme Verlag, Leipzig 1924.
[4] Poitras, PMP: Gastrointestinal symptoms and masticatory dysfunction. Journal of Gastroenterology and Hepatology. v. 7, pp. 61–65, 1992.
[5] Barbosa, CL: Mastigação, um poderoso aliado da Dietoterapia. 1ª ed. Itu-SP: Ottoni, 2009.
                                                                                                                          

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