terça-feira, 24 de setembro de 2024

O que é o Ponto de Acupuntura e o que sente o Paciente ?

O Conceito Original dos Pontos de ACUPUNTURA:

No tratamento de Acupuntura, é senso comum que a sensação especial sentida pelos pacientes, conhecida como "Qi" desempenha um papel fundamental em provocar os efeitos desejados desse tratamento médico. Isso está descrito nos textos originais: “Os efeitos da acupuntura podem ser esperados após a sensação do "Qi” e “retire a agulha após a "Qi”. 

tradução literal do "Qi" é “obter o "Qi”, onde “obter” implica “tocar”. Isso sugere que os efeitos da acupuntura surgem da agulha tocando o "Qi", em vez de uma estrutura anatômica, como um nervo ou vaso. 

Embora o "Qi" seja considerado correspondente à energia vital na medicina ocidental, não houve nenhuma descrição detalhada de sua estrutura ou substância na medicina oriental.

O termo “Acuponto” originalmente se referia a uma caverna em uma montanha. Portanto, pode ser interpretado que cavidades semelhantes a cavernas estão localizadas em meridianos no corpo humano. No entanto, os textos originais não fizeram nenhuma menção à estrutura anatômica ou substância dos "Acupontos", como observado com os meridianos e o "Qi"

Isso pode estar relacionado ao fato de que a maioria dos termos e descrições fisiopatológicas na medicina oriental são basicamente funcionais em vez de estruturais. Portanto, pode ser resumido do conceito original que esses termos se referem a entidades que não são visíveis, mas que simplesmente existem, uma característica considerada fonte subjacente de ambiguidade na identidade dos "Acupontos".

A identidade do "Qi" e dos "Acupontos" 

De acordo com o conceito original descrito na medicina oriental, o "Qi" é uma energia vital que se move rapidamente ao longo dos meridianos e entra e sai dos pontos de acupuntura.  O "Qi" não é visível porque é uma entidade funcional e não estrutural.

Na medicina ocidental, uma substância que é essencial para manter a vida, mas não pode ser vista, é a bioeletricidade. A bioeletricidade se move extremamente rápido, e embora sua função possa ser medida com instrumentos, ela permanece totalmente invisível. Cada entidade viva requer eletricidade para permanecer viva, quer sua atividade se manifeste por meio de mecanismos neuronais ou iônicos. Mesmo dentro de uma célula, um movimento iônico e a mudança elétrica subsequente são essenciais para a vida. Portanto, com base nessas duas comunalidades (ou seja, mensurabilidade sem visibilidade e indispensabilidade à vida, como evidenciado pelo desaparecimento em cadáveres), levantamos a hipótese de que o conceito de "Qi" na medicina oriental pode corresponder à bioeletricidade e que o fluxo do "Qi" é análogo às correntes bioelétricas. 

Consequentemente, os pontos de acupuntura serviriam como espaços para a bioeletricidade (Fig. 1). Além disso, a sensação do "Qi" pode ser entendida como uma forma de construção de ponte elétrica entre as correntes bioelétricas do Acupunturista e do paciente.

Figura 1. Esquema do Ponto de Acupuntura. O espaço onde o "Qi" (bioeletricidade) se reúne, entra e sai. Não há parede ou limite óbvio.

Esta hipótese é apoiada por estudos recentes demonstraram a eficácia superior de uma agulha de acupuntura modificada em comparação com as convencionais. A modificação envolveu a criação de inúmeras reentrâncias nanoporosas na superfície da agulha, levando a um aumento aproximado de 20 vezes em sua área de superfície e consequentemente melhorias notáveis ​​tanto na condutância elétrica quanto na atividade neuronal em resposta à
estimulação da agulha. 

Figura 2. Imagens de superfície de (a) agulha de acupuntura convencional e, (b) agulha de acupuntura nanoporosa com suas (c e d) imagens de alta resolução. (e) Pontos de acupuntura de ratos usados ​​neste estudo.

Esta agulha modificada com condutância elétrica aumentada resultou em efeitos consideravelmente melhores em modelos animais com câncer colorretal [2] e dependência alcoolica [3], indicando que a condutância elétrica é um fator crucial na eficácia da acupuntura.

Preparação de agulha de acupuntura nanoporosa (PN):
A agulha de acupuntura (AC) convencional de aço inoxidável usada neste estudo foi obtida da Dongbang Acupuncture Inc., República da Coreia, com as dimensões de 8 mm de comprimento e 0,18 mm de diâmetro. A PN foi preparada por anodização eletroquímica. Resumidamente, a anodização eletroquímica da AC lavada sequencialmente em acetona, etanol e água deionizada (DI) foi realizada em uma célula de dois eletrodos, com papel carbono como contra-eletrodo e a AC como eletrodo de trabalho. O eletrólito consistia em 0,2% em peso (porcentagem em peso) de NH4F (98,0%, e 2,0% em volume (porcentagem em volume) de água DI em etilenoglicol. A anodização foi realizada a 20 V por 30 min. A agulha anodizada foi enxaguada com acetona, etanol e água DI e então seca em um fluxo de gás nitrogênio.

Além disso, uma nova fita médica (Chimsband) tratou com sucesso doenças neuropsiquiátricas crônicas graves [4,5]. A característica única desta fita é o uso de substâncias especiais, prata e fibra óptica, que têm alta condutância elétrica. 
Pesquisadores trataram pacientes com insônia refratária e depressão apenas fixando esta fita a pontos de acupuntura e pontos-gatilho (pontos de rigidez muscular) onde as agulhas de acupuntura são normalmente inseridas. 
Isso reduziu a lacuna de corrente bioelétrica entre os locais de fixação anormais e as áreas normais ao redor. Curiosamente, os efeitos do tratamento apareceram imediatamente após a fixação da fita, como evidenciado pela melhora da taquicardia, um sinal comum de doenças neuropsiquiátricas crônicas. O início imediato dos efeitos foi atribuído à capacidade da fita de regular as correntes bioelétricas dos pacientes usando substâncias altamente condutoras (prata e fibra óptica), permitindo o rápido movimento da corrente bioelétrica. A menos que o
"Qi" que se reúne nos pontos de acupuntura seja considerado bioeletricidade, esse efeito imediato do efeito da bandagem é difícil de explicar.

Por outro lado, a Acupuntura das Oito Constituições (ECA), amplamente praticada na Coreia, envolve a estimulação com agulha de pontos de acupuntura apenas na superfície da pele, sem que a agulha permaneça sob a pele, mas produzindo efeitos consideráveis ​​[34,35]. Portanto, dado o conceito original de que a acupuntura produz efeitos ao tocar o "Qi", pode-se deduzir que o "Qi" existe não apenas dentro, mas também na pele. Isso se alinha com o fato de que choques elétricos podem ocorrer mesmo em pele não ferida porque a bioeletricidade existe tanto sob quanto na pele. Se o "Qi" não fosse bioeletricidade e se a sensação de "Qi" fosse produzida principalmente pelo tecido conjuntivo [36] em vez de estimulação elétrica, seria difícil explicar por que tratamentos não invasivos de pontos de acupuntura, como Chimsband e ECA, poderiam produzir efeitos semelhantes aos da acupuntura.
É bem sabido que os pontos de acupuntura têm maior condutância elétrica e menor resistência/impedância elétrica do que seus arredores [37]. Os pontos de acupuntura também foram relatados como exibindo propriedades elétricas mais pronunciadas em comparação com áreas adjacentes [38]. Essas evidências apoiam nossa hipótese de que o "Qi", que se reúne e flui para dentro e para fora dos pontos de acupuntura, é bioeletricidade. 
Além disso, a eletroacupuntura, um tipo moderno de acupuntura onde a estimulação elétrica é aplicada a agulhas inseridas nos pontos de acupuntura, indica que a estimulação elétrica nos pontos de acupuntura modula os efeitos da acupuntura e que o "Qi", o alvo das agulhas,
pode de fato ser bioeletricidade.

Assim, a acupuntura pode ser vista como o processo de usar agulhas para conectar as correntes bioelétricas do médico acupunturista e do paciente. Curiosamente, Lee et al. relataram que o efeito supressor da acupuntura na taquicardia induzida por exercício foi bloqueado quando o acupunturista usou luvas duplas de látex [39]. Essas luvas foram usadas para evitar o contato entre as correntes bioelétricas do acupunturista e do paciente. Os pesquisadores sugeriram que a transferência de correntes bioelétricas entre o acupunturista e o paciente era necessária para produzir o efeito da acupuntura.

Em outro estudo, a acupuntura realizada em pacientes com doença gástrica produziu resultados diferentes, dependendo se as mãos do acupunturista estavam isoladas ou não, sugerindo que o efeito da acupuntura pode ser atribuído à carga bioelétrica do acupunturista em vez de estimulação mecânica. Esses estudos implicam que as características elétricas desempenham um papel importante nos efeitos da acupuntura.

Além disso, foi relatado que os pontos de acupuntura estão intimamente relacionados à distribuição ou atividade neuronal [6]. Uma maior densidade de distribuição nervosa foi observada em pontos de acupuntura do que em suas áreas circundantes. A anestesia local ao redor de um ponto de acupuntura bloqueia os efeitos da acupuntura [7]. Essas descobertas implicam que os pontos de acupuntura provavelmente exercem sua função por meio de ações neuronais. Mais importante, um estudo recente demonstrou o papel fundamental das respostas neuronais (ações), em vez do tecido conjuntivo, na mediação dos efeitos da acupuntura [8].
Como é bem sabido, a atividade neuronal fundamenta as correntes bioelétricas. Considerando o conceito original de que os pontos de acupuntura são espaços onde o "Qi" se reúne e que a acupuntura funciona tocando o "Qi", podemos deduzir que os pontos de acupuntura podem ser espaços para bioeletricidade.

No momento atual da pesquisa médica, não temos como medir os pontos e meridianos de Acupuntura do ponto de vista anatômico, histológco ou bioquímico. No entanto, isso pode ser compreensível se nossa hipótese provar ser verdadeira, porque medir o espaço para bioeletricidade anatomicamente, histologicamente ou bioquimicamente seria desafiador. No entanto, tal definição é inevitável se os pontos de acupuntura forem considerados espaços para bioeletricidade e, de fato, muitos paciente referem sensação de peso, dormência um leve choque ao ser puncionado o ponto correto de acupuntura pelo médico, quando se obtém a sensação de "Qi".

Fonte: 

1. Bong HL. A Perspective on the Identity of the Acupoint. Journal of Acupuncture and Meridian Studies 2024;17(4):111-115. 
2. Lee BR, Kim HR, Choi ES, Cho JH, Kim NJ, Kim JH, et al. Enhanced therapeutic treatment of colorectal cancer using surface-modified nanoporous acupuncture needles. Sci Rep 2017;7:12900. 
3. In SL, Gwak YS, Kim HR, Razzaq A, Lee KS, Kim HY, et al. Hierarchical micro/nano-porous acupuncture needles offering enhanced therapeutic properties. Sci Rep 2016;6:34061. 
4. Han CH, Hwang HS, Lee YJ, Lee SN, Abanes JJ, Lee BH. Chronic depression treated successfully with novel taping therapy: a new approach to the treatment of depression. Neuropsychiatr Dis Treat 2016;12:1281-6. 
5. Lee BH, Han CH, Park HJ, Lee YJ, Hwang HS. A novel taping therapy for chronic insomnia: a report on two cases. Complement Ther Med 2013;21:509-11.
6. Zhu B, Xu WD, Rong PJ, Ben H, Gao XY. A C-fiber reflex inhibition induced by electroacupuncture with different intensities applied at homotopic and heterotopic acupoints in rats selectively destructive effects on myelinated and unmyelinated afferent fibers. Brain Res 2004;1011:228-37.
7. Kim SA, Lee BH, Bae JH, Kim KJ, Steffensen SC, Ryu YH, et al. Peripheral afferent mechanisms underlying acupuncture inhibition of cocaine behavioral effects in rats. PLoS One 2013;8:e81018. 
8. Chang S, Kwon OS, Bang SK, Kim DH, Baek MW, Ryu Y, et al. Peripheral sensory nerve tissue but not connective tissue is involved in the action of acupuncture. Front Neurosci 2019;13:110.


terça-feira, 17 de setembro de 2024

Tratamento atual do MELANOMA AVANÇADO

 

Cenário atual: pacientes com Melanoma avançado estão vivendo mais de 7,5 anos, atualmente.

Desenho do Estudo: distribuiu-se, aleatoriamente pacientes com melanoma avançado não tratados anteriormente, em 2 grupos: uso do imunobiológico nivolumabe (1 mg por quilograma de peso corporal) mais ipilimumabe (3 mg por quilograma) a cada 3 semanas por quatro doses, seguido por nivolumabe (3 mg por quilograma) a cada 2 semanas; nivolumabe (3 mg por quilograma) a cada 2 semanas mais placebo; ou ipilimumabe (3 mg por quilograma) a cada 3 semanas por quatro doses mais placebo. O tratamento foi continuado até a ocorrência de progressão da doença, efeitos tóxicos inaceitáveis ​​ou retirada do consentimento. A randomização foi estratificada de acordo com o status da mutação BRAF, estágio da metástase e expressão do ligante de morte programada 1. 

Foi publicado os resultados finais de 10 anos deste estudo, incluindo resultados da sobrevida global e sobrevida específica do melanoma, bem como durabilidade da resposta.

Resultados:

Com um acompanhamento mínimo de 10 anos, a sobrevida global mediana foi de:

  • 71,9 meses com nivolumabe mais ipilimumabe, 
  • 36,9 meses com nivolumabe e 
  • 19,9 meses com ipilimumabe. 


A taxa de risco para morte foi de 0,53 (intervalo de confiança [IC] de 95%, 0,44 a 0,65) para nivolumabe + ipilimumabe em comparação com ipilimumabe que foi de 0,63 (IC de 95%, 0,52 a 0,76). A sobrevida mediana específica para melanoma foi de mais de 120 meses com nivolumabe + ipilimumabe, 49,4 meses com nivolumabe e 21,9 meses com ipilimumabe. Entre os pacientes que estavam vivos e sem progressão em 3 anos, a sobrevida específica para melanoma em 10 anos foi de 96% com nivolumabe + ipilimumabe, 97% com nivolumabe e 88% com ipilimumabe.




Conclusões: 
Os resultados finais do estudo mostraram um benefício de sobrevivência contínuo com nivolumab (Optivo) mais ipilimumab (Yervoy) e com monoterapia com nivolumab, em comparação com monoterapia com ipilimumab, em pacientes com melanoma avançado.

sexta-feira, 6 de setembro de 2024

Terapia Nutricional nas Crianças

Gestação e Lactância:

O clichê de que o “feto é o parasita perfeito” implica que os fetos captem tudo que precisam à custa do hospedeiro. No entanto, em algum momento a deficiência nutricional pode resultar em trabalho de parto prematuro, aliviando o hospedeiro de uma dívida nutricional em curso. Após o nascimento a nutrição de qualidade durante o aleitamento continua o processo de fornecimento de blocos de construção nutricionais para o desenvolvimento cerebral normal e o crescimento de todos os órgãos do corpo do recém-nascido. Este período — de crescimento de um novo ser humano — configura o estágio para a saúde das futuras gerações. A qualidade e a quantidade de alimento para o zigoto em desenvolvimento, depois feto, recém-nascido e em seguida adulto, emergem como uma explicação para as doenças que se manifestam na idade adulta.

Fertilidade: mulheres com um IMC menor que 20 kg/m2 têm um risco aumentado de anovulação. Homens e mulheres apresentam taxas de infertilidade aumentadas quando há excesso de massa corporal ou obesidade; a perda de massa corporal e o aumento da atividade física podem ser úteis (Simon, 2014).

FIM: pag 916

Pediatria:

A taxa de crescimento diminui consideravelmente após o primeiro ano de vida. Os incrementos de mudança são pequenos comparados com os da lactância e adolescência; a massa corporal normalmente aumenta, em média, de 1,6 a 3,3 kg por ano até que a criança tenha 9 ou 10 anos de idade. Então a taxa aumenta, sinalizando a aproximação da puberdade. Os incrementos de aumento da estatura são em média de 5 a 9 cm por ano até o estirão de crescimento individual visto na puberdade.



O crescimento é geralmente constante e lento durante os anos de idade pré-escolar e escolar, mas pode ser errático em certas crianças, com períodos de ausência de crescimento seguidos por estirões de crescimento. Esses padrões geralmente são paralelos a mudanças similares no apetite e ingestão de alimentos. Para os pais, os períodos de crescimento lento e falta de apetite podem causar ansiedade, levando a conflitos nos horários das refeições.

A composição corporal de crianças em idade pré-escolar e escolar permanece relativamente constante. A gordura diminui gradualmente durante os primeiros anos da infância, atingindo um mínimo entre 4 e 6 anos de idade. As crianças então passam pelo rebote de adiposidade, ou aumento da gordura corporal em preparação para o estirão de crescimento puberal. O rebote de adiposidade mais precoce foi associado ao aumento do índice de massa corporal (IMC) adulto (Williams e Goulding, 2009). 

As diferenças entre os sexos na composição corporal tornam-se cada vez mais evidentes: os meninos têm mais massa corporal magra por centímetro de estatura do que as meninas.

As medições de crescimento obtidas em intervalos regulares fornecem informações sobre o padrão de crescimento de um indivíduo. As medições de uma só vez não permitem a interpretação do estado de crescimento. Os canais de crescimento não são bem estabelecidos até após os 2 anos de idade. As crianças geralmente mantêm as suas estaturas e as suas massas corporais nos mesmos canais de crescimento durante os anos pré-escolares e da infância.

O monitoramento regular do crescimento possibilita que sejam identificadas tendências problemáticas e que seja iniciada a intervenção precoce para que o crescimento a longo prazo não seja comprometido. A massa corporal que aumenta rapidamente e cruza os canais de crescimento pode sugerir o desenvolvimento de obesidade.

A falta de ganho de massa corporal em um período de meses ou a perda de massa corporal pode ser resultado de desnutrição, doença aguda, doença crônica não diagnosticada ou problemas emocionais ou familiares significativos.

Uma criança que está se recuperando de uma doença ou desnutrição e cujo crescimento ficou mais lento ou parou experimenta uma taxa de recuperação maior do que a esperada. Esta recuperação é chamada de recuperação do crescimento, um período durante o qual o corpo se esforça para voltar ao canal de crescimento normal da criança.

Exigências nutricionais

Como as crianças estão crescendo e desenvolvendo ossos, dentes, músculos e sangue, elas precisam de alimentos mais nutritivos em proporção ao seu tamanho do que os adultos.

As proporções de ingestão sugeridas de energia são de 45 a 65% como carboidratos, 30 a 40% como lipídeos e 5 a 20% como proteínas para crianças de 1 a 3 anos de idade, com os carboidratos na mesma proporção para crianças de 4 a 18 anos de idade, 25 a 35% como lipídeos e 10 a 30% como proteínas.

A necessidade de proteínas diminui de aproximadamente 1,1 g/kg na primeira infância para 0,95 g/kg no final da infância.

Ferro 
As crianças entre 1 e 3 anos de idade estão em risco de anemia por deficiência de ferro, que pode afetar o desenvolvimento. O período de crescimento rápido da lactância é marcado por um aumento nas concentrações de hemoglobina e massa de ferro total. Crianças com alimentação por mamadeira prolongada e os de ascendência mexicana americana estão em maior risco para a deficiência de ferro (Moshfegh et al., 2005). As ingestões recomendadas devem levar em consideração a taxa de absorção e a quantidade de ferro em alimentos, especialmente aqueles de origem vegetal. 

Cálcio 
O cálcio é necessário para a mineralização adequada e a manutenção do osso em crescimento nas crianças. A RDA para o cálcio para crianças de 1 a 3 anos de idade é de 700 mg/dia, para crianças de 4 a 8 anos é de 1.000 mg/dia e para aqueles de 9 a 18 anos é de 1.300 mg por dia. A necessidade real depende das taxas de absorção individuais e dos fatores dietéticos, tais como quantidades de proteínas, vitamina D e fósforo. Como o leite e outros produtos lácteos são fontes primárias de cálcio, as crianças que consomem quantidades limitadas desses alimentos estão com frequência em risco de mineralização óssea precária. Outros alimentos enriquecidos com cálcio, tais como leites de soja e de arroz e sucos de frutas, também são boas fontes.

Zinco 
O zinco é essencial para o crescimento; uma deficiência resulta em falha de crescimento, falta de apetite, diminuição da acuidade do paladar e má cicatrização de feridas. Como as melhores fontes de zinco são carne e frutos do mar, algumas crianças podem ter regularmente baixas ingestões. O diagnóstico de deficiência de zinco, especialmente a deficiência marginal, pode ser difícil porque os parâmetros laboratoriais, incluindo plasma, eritrócitos séricos, cabelo e urina são de valor limitado na determinação da deficiência de zinco. Há uma influência positiva da suplementação com zinco sobre o crescimento e as concentrações de zinco no soro. 

Vitamina D 
A vitamina D é necessária para a absorção de cálcio e a deposição de cálcio nos ossos; outras funções dentro do corpo, incluindo a prevenção de doenças crônicas como câncer, doença cardiovascular e diabetes, são áreas importantes de investigação em curso. Como este nutriente também é formado a partir de exposição da pele à luz solar, a quantidade necessária de fontes dietéticas depende de fatores como a localização geográfica e o tempo que se passa ao ar livre. A DRI para vitamina D para lactentes é de 400 UI (10 µg) por dia e para crianças é de 600 UI (15 µg) por dia. O leite fortificado com vitamina D é a fonte dietética principal deste nutriente, e os cereais matinais e leites vegetais geralmente são fortificados com vitamina D. Os produtos lácteos, como queijo e iogurte, no entanto, nem sempre são feitos a partir de leite fortificado. Os leites que não são leite de vaca (p. ex., de cabra, de soja, de amêndoa ou de arroz) podem não ser fortificados com vitamina D. Para as crianças pequenas, a DRI atual para a vitamina D é mais elevada do que o que pode ser consumido a partir de uma dieta típica. A suplementação pode ser necessária após uma avaliação cuidadosa ou medição do estado de vitamina D. Está ficando cada vez mais comum medir as concentrações séricas de vitamina D 25 (OH) em crianças; todavia, há alguma controvérsia sobre o que constitui as concentrações.

Suplementos de Vitaminas e Minerais 
Quarenta por cento das crianças em idade pré-escolar recebem um suplemento multivitamínico-mineral; esta percentagem diminui em crianças mais velhas. 
As evidências mostram que o flúor pode ajudar a prevenir a cárie dentária. Se o abastecimento de água de uma comunidade não for fluoretado, os suplementos de flúor são recomendados a partir dos 6 meses até os 16 anos de idade. Contudo, práticas familiares individuais devem ser avaliadas, incluindo a origem da fonte primária de fluidos da criança (p. ex., água potável, sucos ou outras bebidas) e fontes de fluoreto provenientes de assistência à infância, escola, pasta de dente e bochechos.

A Associação Americana de Pediatria não apoia a suplementação de rotina de quaisquer vitaminas ou minerais para as crianças saudáveis, exceto para o flúor

Entretanto, as crianças em risco de nutrição inadequada que podem se beneficiar incluem aquelas (1) com anorexia, apetite inadequado ou que consomem dietas da moda; (2) com doenças crônicas (p. ex., fibrose cística, doença inflamatória do intestino, doença hepática); (3) de famílias com privação de alimentos ou que sofrem negligência ou abuso parental; (4) que participam de um programa de dieta para o tratamento de obesidade; (5) que consomem uma dieta vegetariana sem produtos lácteos adequados; (6) com o crescimento oscilante (dificuldade para se desenvolver); (7) com deficiências de desenvolvimento. 

As crianças que rotineiramente tomam um suplemento de múltiplas vitaminas ou um suplemento vitamínico-mineral geralmente não experimentam efeitos negativos se o suplemento contiver nutrientes em quantidades que não excedam as DRI, especialmente o teor máximo de ingestão tolerável. No entanto, alguns nutrientes podem ser “esquecidos” por suplementos múltiplos vitamínicos gerais. 

Embora muitas crianças consumam menos do que a quantidade recomendada de cálcio, os suplementos de vitaminas e minerais para crianças normalmente não contêm quantidades significativas de cálcio. Por exemplo, em crianças entre 2 e 18 anos de idade que tomaram suplementos, um terço não atinge as recomendações de ingestão de cálcio e vitamina D, mesmo com suplementos. Além disso, o uso de suplementos foi associado ao aumento da prevalência das ingestões excessivas de ferro, zinco, vitamina A e ácido fólico (Bailey et al., 2012). Além disso, uma análise dos suplementos comercializados para lactentes e crianças indicaram que os suplementos disponíveis não necessariamente preenchem as recomendações para a ingestão; para alguns nutrientes, não é fornecido o suficiente, e para outros, os suplementos fornecem quantidades excessivas (Madden et al., 2014). 

As crianças não devem tomar megadoses, especialmente das vitaminas lipossolúveis, porque grandes quantidades podem resultar em toxicidade. A avaliação cuidadosa de cada suplemento pediátrico é sugerida, porque muitos tipos estão disponíveis, mas incompletos. Como muitos suplementos de vitaminas e minerais parecem e têm o sabor de doces, os pais devem mantê-los fora do alcance das crianças para evitar o consumo excessivo de nutrientes como o ferro.

Dietoterapia para Lactentes com Baixo Peso ao Nascer:
A nutrição pode ser fornecida de muitas maneiras ao lactente com BPN (prematuro baixo peso), cada uma com seus benefícios e limitações específicas. O tamanho, a idade e a condição clínica da criança ditam os requerimentos nutricionais e a maneira como podem ser atendidos.

Definições: um recém-nascido que, ao nascer, pesa menos de 2.500 g é classificado como tendo baixo peso ao nascer (BPN); um lactente com peso inferior a 1.500 g tem muito baixo peso ao nascer (MBPN); e um recém-nascido com peso inferior a 1.000 g tem extremo baixo peso ao nascer (EBPN).

O lactente a termo é aquele que nasce entre 37 e 42 semanas de gestação. O lactente pré-termo (prematuro) nasce antes de 37 semanas de gestação, enquanto o lactente pós-termo é aquele nascido após 42 semanas de gestação.

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Características de Imaturidade
O recém-nascido prematuro ou com baixo peso ao nascer não teve a oportunidade de se desenvolver plenamente no útero e é fisiologicamente diferente do lactente a termo (Fig. 1). 

Figura 1. Bebê prematuro

Em decorrência disso, a criança com BPN apresenta vários problemas clínicos no início do período neonatal, dependendo do ambiente intrauterino, do grau de prematuridade, do trauma relacionado com o nascimento e do funcionamento dos sistemas de órgãos que são imaturos ou estão sob estresse. Certos problemas ocorrem com tanta frequência que são considerados típicos da prematuridade (Tabela 1). 

Tabela 1. Problemas Comuns em Lactentes Pré-termo

Sistema Problema
Respiratório Síndrome do desconforto respiratório do recém-nascido, doença pulmonar crônica (displasia broncopulmonar)
Cardiovascular Persistência do canal arterial
Renal Desequilíbrio hídrico e eletrolítico
Neurológico Hemorragia intraventricular, leucomalácia periventricular (necrose cerebral)
Metabólico Hipoglicemia, hiperglicemia, hipocalcemia, acidose metabólica
Gastrointestinal Hiperbilirrubinemia, intolerância alimentar, enterocolite necrosante
Hematológico Anemia

Imunológico Sepse, pneumonia, meningite
Outros Apneia, bradicardia, cianose, osteopenia
De Cloherty JP et al., editors: Manual of Neonatal care, 7. ed., Filadélfia, 2012, Wolters Kluwer/Lippincott Williams & Wilkins.

As crianças prematuras estão em alto risco de déficit no estado nutricional, em decorrência das baixas reservas de nutrientes, imaturidade fisiológica, doença (o que pode interferir no cuidado e nas necessidades nutricionais) e exigências nutricionais para o crescimento.

A maior parte das reservas fetais de nutrientes é depositada nos últimos 3 meses de gestação; portanto, o bebê prematuro começa a vida em um estado nutricional comprometido.

Como as reservas metabólicas (ou seja, energia) são limitadas, a terapia nutricional sob a forma de nutrição parenteral (NP), de nutrição enteral (NE), ou de ambas, deve ser iniciada o mais precocemente possível
No recém nascido pré-termo com peso de 1.000 g, a gordura constitui apenas 1% da massa corporal total; por outro lado, o lactente a termo (3.500 g) tem um percentual de gordura de aproximadamente 16%. Por exemplo, um recém-nascido pré-termo AIG de 1.000 g tem uma reserva de glicogênio e gordura equivalente a cerca de 110 kcal/kg da massa corporal. Com necessidades metabólicas basais de cerca de 50 kcal/kg/dia, é óbvio que essa criança vai rapidamente ficar sem combustível proveniente de lipídeos e carboidratos, a menos que se estabeleça uma terapia nutricional adequada. O tempo de depleção é ainda mais curto para o lactente pré-termo com massa corporal inferior a 1.000 g ao nascimento. As reservas de nutrientes também se esgotam mais rapidamente em crianças pequenas que têm RCF como resultado da diminuição em suas reservas de nutrientes.

Estimativas teóricas do tempo de sobrevivência de lactentes em estado de inanição e semi-inanição são apresentadas na
Tabela 2. Essas estimativas assumem a depleção de toda a reserva de glicogênio e gordura e aproximadamente um terço da reserva de proteínas dos tecidos corporais a uma taxa de 50 kcal/kg/dia. Mostram-se os efeitos de líquidos fornecidos por via endovenosa como a água (que não tem energia exógenas) e solução de dextrose a 10% (D10W). 

Tabela 2. 


Atualmente, os líquidos via NP são iniciados no dia do nascimento, a fim de fornecer energia e proteínas à criança com MBPN. A ingestão precoce de proteínas promove um balanço nitrogenado positivo, concentração sérica normal de aminoácidos e tolerância à glicose.

O recém-nascido pré-termo pequeno é particularmente vulnerável à subnutrição. A desnutrição em lactentes prematuros pode aumentar o risco de infecção, prolongar a doença crônica e afetar negativamente o crescimento e o funcionamento do encéfalo. O recém-nascido prétermo alimentado com fórmula infantil para lactentes pré-termo ou com leite materno demonstra melhor crescimento e desenvolvimento do que crianças prematuras alimentadas com fórmulas infantis convencionais. A alimentação no primeiro mês de vida com o leite da mãe da própria criança tem sido associada a maior crescimento e desenvolvimento. O lactente pré-termo alimentado com o leite de sua própria mãe tem melhor desenvolvimento neurológico aos 30 meses de idade e escores mais altos em testes de inteligência aos 8 anos, além de encéfalos maiores e mais desenvolvidos aos 15 anos (American Academy of Pediatrics [AAP], Section on Breastfeeding, 2012; Issacs et al., 2010).

Necessidades nutricionais: alimentação parenteral
Muitos lactentes pré-termo em condição grave têm dificuldade de progredir para a alimentação enteral plena nos primeiros dias ou mesmo semanas de vida. A pequena capacidade do estômago da criança, o sistema gastrointestinal imaturo e a doença dificultam a progressão para a alimentação enteral plena. A NP torna-se essencial para a terapia nutricional, quer como suplemento à alimentação enteral, quer como fonte integral de nutrição. 

Líquidos
Como as necessidades de líquidos variam amplamente para o lactente pré-termo, deve-se monitorar o balanço hídrico. A ingestão inadequada pode levar a desidratação, desequilíbrio eletrolítico e hipotensão; a ingestão excessiva pode levar a edema, insuficiência cardíaca congestiva e possível abertura do canal arterial. As complicações clínicas neonatais adicionais notificadas com a alta ingestão de líquidos incluem enterocolite necrosante (ECN) e displasia broncopulmonar (DBP).

O lactente pré-termo apresenta percentagem de água no corpo (especialmente água extracelular) maior que a do recém-nascido a termo
. A quantidade de água extracelular deve diminuir em todas as crianças nos primeiros dias de vida. Essa redução é acompanhada pela perda normal de 10% a 15% da massa corporal e melhora da função renal. A falha nessa transição na dinâmica dos líquidos e a ausência de diurese podem complicar o curso de evolução do lactente pré-termo com doenças respiratórias.

As necessidades de água são estimadas pela soma das perdas prevista por pulmões e pele, urina e fezes, bem como pela água necessária ao crescimento. A principal via de perda de água no recém nascido pré-termo é a evaporação através da pele e das vias respiratórias. Essa perda de água insensível é mais elevada nos lactentes menores e menos maduros, por causa de sua maior área de superfície corporal em relação à massa corporal, do aumento da permeabilidade da epiderme da pele à água e do maior fluxo sanguíneo da pele em relação à taxa metabólica. 
A perda de água insensível é aumentada por berços aquecidos e luzes de fototerapia e diminuída pelo uso de incubadoras com umidificadores, escudos térmicos e cobertores térmicos. A perda insensível de água pode variar de 50 a 100 mL/kg/dia no primeiro dia de vida e aumentar até 150 mL/kg/dia, dependendo do tamanho da criança, da idade gestacional, dos dias de vida e do ambiente. 
O uso de incubadoras com umidificador pode diminuir a perda de água insensível e, assim, também os requisitos de líquidos.


A excreção de urina, outra via principal de perda de água, varia de 1 a 3 mL/kg/h. Essa perda depende do volume de líquidos e da carga de soluto apresentada aos rins. A capacidade da criança de concentrar urina aumenta com a maturidade. Em geral, a perda de água pelas fezes é de 5 a 10 mL/kg/dia; sugere-se que o ideal para o crescimento seja de 10 a 15 mL/kg/dia (Dell, 2011). Em razão das muitas variáveis que afetam a perda hídrica neonatal as necessidades de líquidos devem ser determinadas individualmente
Normalmente, administram-se líquidos a uma taxa de 60 a 100 mL/kg/dia no primeiro dia de vida, a fim de atender às perdas insensíveis e à produção de urina. As necessidades são, então, determinadas por meio da avaliação da ingestão de líquidos. Os resultados são comparados aos parâmetros clínicos de volume de urina produzida e à concentração sérica de eletrólitos, creatinina e nitrogênio da ureia sanguínea. A avaliação da massa corporal, da pressão arterial, da perfusão periférica, do turgor da pele e da umidade das mucosas é realizada diariamente. A administração diária de líquidos geralmente é aumentada em 10 a 20 mL/kg/dia. No final da segunda semana de vida, os lactentes prematuros podem receber líquidos a uma taxa de 140 a 160 mL/kg/dia
Pode ser necessária a restrição de líquidos nos recém-nascidos pré-termo com PCA, insuficiência cardíaca congestiva, insuficiência renal ou edema cerebral. No entanto, o lactente pré-termo que é colocado sob luzes de fototerapia ou em um berço aquecido precisa de mais líquidos, bem como aquele que está em uma temperatura ambiente elevada ou cuja temperatura central está alta.

Energia:
As necessidades energéticas do recém-nascido pré-termo alimentado por via parenteral são menores que as do lactente alimentado por via enteral, porque a perda na absorção não ocorre quando a ingestão nutricional desvia o sistema intestinal. O recém-nascido pré-termo alimentado por via enteral normalmente requer 105 a 130 kcal/kg/dia para crescer, enquanto o lactente pré-termo alimentado por via parenteral pode crescer bem se receber de 90 a 100 kcal/kg/dia (AAP, 2014). Devem-se fornecer as necessidades energéticas de manutenção mínimas e uma quantidade adequada de proteínas o mais rapidamente possível, a fim de evitar catabolismo tecidual. Fornecer ao lactente com MBPN 1,5 g de proteínas e 40 a 60 kcal/kg/dia promove o balanço nitrogenado durante os três primeiros dias de vida (AAP, 2014; Rigo e Senterre, 2013). 
Deve-se introduzir 2 a 3 g/kg/dia de proteínas dentro de algumas horas após o nascimento, a fim de maximizar o balanço nitrogenado e a concentração plasmática de aminoácidos (AAP, 2014). Deve-se aumentar a ingestão energética e proteica conforme a condição da criança vai-se estabilizando e o crescimento torna-se o objetivo (Tabela 42-3). Muitos lactentes com MBPN nascem Aadequado para a idade gestacional (AIG), mas, ao receberem alta do hospital, pesam menos que o percentil 10 para sua idade gestacional, de acordo com a data da última menstruação. Esse novo estado de pequeno para a idade gestacional (PIG) é chamado de retardo do crescimento extrauterino (RCEU). A RCEU pode ocorrer como resultado do déficit na ingestão de energia e proteínas e crescimento diminuído associado a doenças (Lapillonne e Grifin, 2013).

Glicose:
A glicose, ou dextrose, é a principal fonte de energia (3,4 kcal/g). No entanto, a tolerância à glicose é limitada em lactentes prematuros, especialmente nas crianças de muito baixa massa corporal, por causa
da produção inadequada de insulina, resistência à insulina e liberação continuada de glicose hepática enquanto a glicose intravenosa está sendo infundida. Há menor probabilidade de hiperglicemia quando a glicose é administrada com aminoácidos do que quando é infundida isoladamente. Os aminoácidos exercem efeito estimulador sobre a liberação de insulina.
É importante prevenir a hiperglicemia, porque ela pode levar à diurese e à desidratação.
A fim de prevenir a hiperglicemia em recém-nascidos de MBPN, a glicose deve ser administrada em pequenas quantidades. A carga glicêmica depende da concentração da infusão de dextrose e da velocidade com que é administrada (Tabela 42-4). 

A administração de insulina exógena é evitada em recém-nascidos pré-termo (AAP, 2014). A insulina adere ao tubo endovenoso, o que resulta em flutuação da glicose no sangue, como resultado da concentração não constante de insulina. 
Problemas adicionais para a criança incluem hipoglicemia, diminuição do crescimento linear, associação entre hipoglicemia e desenvolvimento neurológico, e morte (Alsweiler et al., 2012). 

Em geral, os recém-nascidos pré––termo devem receber uma carga inicial de glicose de 4,5 a 6 mg/kg/min, com aumento gradual para 11 a 12 mg/kg/min. A carga de glicose pode ser avançada para 1 a 2 mg/kg/min/dia. A hipoglicemia não é um problema tão comum quanto a hiperglicemia, mas pode ocorrer se a infusão de glicose diminuir abruptamente ou for interrompida.

Aminoácidos:
As diretrizes para a ingestão de proteínas variam de 2,7 a 4 g/ kg/dia (AAP, 2014). Não se deve exceder essa quantidade de proteínas na solução parenteral porque mais proteínas não oferecem qualquer vantagem aparente, além de aumentar o risco de problemas metabólicos. 

Na prática, os recém-nascidos pré-termo normalmente recebem 2 a 3 g/kg/dia de proteínas nos primeiros dias de vida e, então, as proteínas são fornecidas conforme tolerado. Muitos berçários mantêm estoques de soluções de NP inicial – que são compostas por água, glicose, proteínas e, às vezes, cálcio – que estão disponíveis 24 horas por dia. Os lactentes podem, então, receber proteínas assim que chegam ao berçário.

As soluções de aminoácidos convencionais não são projetadas para atender às necessidades específicas dos lactentes imaturos e podem provocar desequilíbrio na concentração sérica de aminoácidos. Por exemplo, os teores de cisteína, tirosina e taurina nessas soluções são baixos em relação às necessidades do lactente prematuro, mas os teores de metionina e glicina são relativamente elevados. Como o recém-nascido pré-termo não sintetiza eficazmente a cisteína a partir da metionina por causa de uma redução nas concentrações da enzima hepática cistationase, sugere-se o uso de um suplemento de cisteína. A cisteína é insolúvel e instável em solução; assim, é adicionada ao cloridrato de cisteína quando a solução de NP é preparada.
Além de desequilíbrio nos aminoácidos plasmáticos, outros problemas metabólicos associados à infusão de aminoácidos em lactentes prematuros incluem acidose metabólica, hiperamonemia e
azotemia. Esses problemas podem ser minimizados com a utilização de produtos de aminoácidos cristalinos e seguindo as diretrizes recomendadas para carga de proteínas (Tabela 42-5).

Lipídeos: 
As emulsões lipídicas intravenosas são usadas por duas razões: 
(1) atender às necessidades de ácidos graxos essenciais (AGE) e 
(2) fornecer uma fonte concentrada de energia. 

As necessidades de AGE podem ser atendidas fornecendo 0,5 g/kg/dia de lipídeos. Observaram-se evidências bioquímicas de deficiência de AGE durante a primeira semana de vida em recém-nascidos de muito baixa massa corporal alimentados por via parenteral sem lipídeos. 
As consequências clínicas da deficiência de AGE podem incluir alterações na coagulação, surfactante pulmonar anormal e efeitos adversos sobre o metabolismo do pulmão.
Os lipídeos podem ser iniciados a 1 a 2 g/kg/dia e devem ser fornecidos ao longo de 24 horas (AAP, 2014). Os lipídeos podem ser avançados para 1 a 2 g/kg/dia, até que seja alcançada uma taxa de 3 g/kg/dia (Tabela 42-6). 


Deve-se monitorar a concentração plasmática de triglicerídeos, porque concentrações elevadas de triglicerídeos podem desenvolver-se em crianças com diminuição na capacidade de hidrolisar triglicerídeos. Essas crianças geralmente têm menor idade gestacional, são PIG, têm infecção, estresse cirúrgico ou doença hepática. O monitoramento da concentração sérica de triglicerídeos é indicado, e pode ser necessária uma taxa inferior a 3 g/kg/dia de gordura para manter a concentração sérica de triglicerídeos abaixo de 200 mg/dL (AAP, 2014). Uma vez que a criança está clinicamente estável e precisa de energia adicional para o crescimento, as cargas de lipídeos podem ser aumentadas lentamente. 
É possível fornecer intralipídeos à criança com hiperbilirrubinemia. Na recomendação atual de 3 g/kg/dia, administrada ao longo de 24 horas, não há deslocamento de bilirrubina dos sítios de ligação à albumina (AAP, 2014).

A carga total de lipídeos geralmente é de 25% a 40% das calorias de origem não proteica (AAP, 2014). Para o recém-nascido pré-termo, recomendam-se as soluções a 20%, que fornecem 2 kcal/mL, porque a concentração sérica de triglicerídeos, colesterol e fosfolipídeos geralmente é mais baixa que nas emulsões a 10%. As emulsões a 10% contêm mais fosfolipídeos emulsificadores por grama de lipídeos, e esse emulsificador diminui a quebra de triglicerídeos. 

As emulsões lipídicas intravenosas são feitas de óleo de soja e contêm ácidos graxos ômega-6, ácido linoleico e ácido araquidônico (ARA). Esses AGE aumentam a produção dos mediadores inflamatórios e o estado inflamatório do lactente (Premkumar et al., 2014). Existe uma emulsão lipídica intravenosa à base de óleo de peixe que contém ácidos graxos ômega-3: ácido eicosapentaenoico (AEP) e docosahexaenoico (ADH). Esses ácidos graxos ômega-3 são antiinflamatórios e revelam-se úteis no tratamento da doença hepática associada à nutrição parenteral (Premkumar et al., 2014). 

Outra emulsão lipídica europeia, a SMOF (óleo de soja, triglicerídeos de cadeia média, azeite de oliva e óleo de peixe) acaba de ser disponibilizada nos Estados Unidos. Essa mistura de óleos também pode oferecer propriedades anti-inflamatórias (Vanek et al., 2012). 

Com frequência, a carnitina é adicionada às soluções de NP para prematuros. A carnitina facilita o mecanismo pelo qual os ácidos graxos são transportados pela membrana mitocondrial, o que possibilita sua oxidação para fornecer energia. Como os lipídeos intravenosos não contêm carnitina e os recém-nascidos pré-termo têm limitação na capacidade de produzir carnitina, a suplementação com carnitina pode ser útil a lactentes pré-termo que estão recebendo apenas NP por 2 a 3 semanas (Hay et al., 2014). 

Eletrólitos: 
Após os primeiros dias de vida, o sódio, o potássio e o cloreto são adicionados às soluções parenterais para compensar a perda de fluido extracelular. 
Para evitar hipercalemia e arritmias cardíacas, o uso de potássio deve ser suspenso até que se veja fluxo renal. Em geral, o recém-nascido pré-termo tem os mesmos requerimentos de eletrólitos que o lactente a termo. Contudo, seus requerimentos reais variam, dependendo de fatores como função renal, estado de hidratação e utilização de diuréticos (Tabela 42-7). Lactentes muito imaturos podem apresentar limitação na capacidade de conservar sódio e, portanto, necessitar de maiores quantidades de sódio para manter a concentração sérica normal desse eletrólito. A concentração sérica de  eletrólitos deve ser periodicamente monitorada.

Minerais:
O cálcio e o fósforo são componentes importantes da solução de NP.
Os recém-nascidos pré-termo que recebem NP com baixas concentrações de cálcio e fósforo estão em risco de desenvolver osteopenia da prematuridade. Esse déficit na mineralização óssea tem maior propensão a se desenvolver no lactente com MBPN que recebe NP por períodos prolongados. 
O estado de cálcio e fósforo deve ser monitorado por meio da concentração sérica de cálcio, fósforo e fosfatase alcalina. Os níveis de atividade da fosfatase alcalina em recém-nascidos pré-termo são maiores que aqueles observados em adultos. É comum ver níveis de até 600 UI/L, o que pode refletir o rápido crescimento ósseo (Abrams, 2012). Quando os níveis de atividade da fosfatase alcalina de 800 UI/L ou mais persistirem, devem-se examinar as radiografias de joelho ou punho, à procura de raquitismo (Abrams, 2012). A elevação na atividade da fosfatase alcalina também pode ser encontrada na doença hepática. 
O lactente pré-termo tem maior necessidade de cálcio e fósforo do que as crianças nascidas a termo. No entanto, é difícil adicionar uma quantidade suficiente de cálcio e fósforo às soluções parenterais para atender a essas exigências mais elevadas sem causar precipitação dos minerais. O cálcio e o fósforo devem ser fornecidos simultaneamente nas soluções de NP. Não se recomendam as infusões em dias alternados porque levam a uma concentração sérica anormal de minerais e à diminuição na retenção do mineral.
As recomendações atuais para a administração parenteral de cálcio, fósforo e magnésio adicional são apresentadas na Tabela 42.8. As ingestões são expressas num volume de 120 a 150 mL/kg/dia, com 2,5
g/100 mL de aminoácidos ou proteínas. Volumes mais baixos de líquido ou concentrações mais baixas de proteínas podem fazer que os minerais se precipitem da solução. A adição de cloridrato de cisteína aumenta a acidez do líquido, o que inibe a precipitação de cálcio e fósforo.


Essas recomendações assumem uma ingestão de líquidos média de 120 a 150 mL/kg/dia com 2,5 g de aminoácidos a cada 100 mL. A concentração de aminoácidos impede a precipitação desses minerais.

Oligoelementos:
Deve-se administrar zinco a todos os recém-nascidos pré-termo que recebem NP. Se a alimentação enteral não puder ser iniciada com 2 semanas de idade, devem-se adicionar oligoelementos. No entanto, a quantidade de manganês deve ser reduzida em crianças com icterícia obstrutiva; e a quantidade de selênio e cromo deve ser diminuída nos lactentes com disfunção renal. O cobre pode estar concentrado no fígado com colestase, e recomenda-se determinar o estado de cobre por dosagem da concentração plasmática desse mineral ou de ceruloplasmina (AAP, 2014). 

A administração parenteral de ferro não é rotineiramente fornecida, já que os lactentes muitas vezes recebem transfusão de sangue logo após o nascimento, e a alimentação enteral, que é uma fonte de ferro, frequentemente pode ser iniciada. Se necessário, a dosagem para administração parenteral de ferro é de cerca de 10% da dosagem enteral; as diretrizes variam de 0,2 a 0,25 mg/kg/dia (resultados de Domellöf, 2014). A Tabela 42-9 fornece diretrizes para a administração de oligoelementos.


Vitaminas:
Logo após o nascimento, todos os lactentes recebem uma injeção intramuscular (IM) de 0,3 a 1 mg de vitamina K para prevenir a doença hemorrágica do recém-nascido pela deficiência de vitamina K.
Os estoques de vitamina K são baixos no lactente, e há pouca produção de vitamina K pela microbiota intestinal até que colonização bacteriana tenha ocorrido. Como a ingestão inicial de vitamina K é limitada, os recém-nascidos estão em risco nutricional se não receberem esse suplemento IM.

Devem-se administrar apenas preparações intravenosas de multivitamínicos atualmente aprovadas e concebidas para utilização em crianças, a fim de fornecer a ingestão adequada de vitamina e evitar a toxicidade dos aditivos utilizados em injeções de multivitamínicos destinadas a adultos. A American Academy of Pediatrics recomenda a infusão de 40% do frasco pediátrico de 5 mL de multivitamínico (MVI) por quilograma de massa corporal (AAP, 2014). A dose máxima de 5 mL é dada a uma criança com um massa corporal de 2,5 kg (Tabela 42-10).


A síndrome do desconforto respiratório do recém-nascido (SDRRN) é uma doença que acomete ocorre nos lactentes pré-termo logo após o nascimento porque essas crianças apresentam deficiência de uma substância do pulmão denominada surfactante. O surfactante é responsável por manter a elasticidade do pulmão durante a respiração; assim, administra-se suplementação com surfactante ao lactente para evitar a SDRRN ou para atenuar a doença. Os lipídeos e proteínas são componentes do agente tensioativo, e os fosfolipídeos são seu principal lipídeo. A colina é necessária à síntese de fosfolipídeos, mas a suplementação com colina não aumenta a produção de fosfolipídeos (van Aerde e Narvey, 2006). A colina é um nutriente condicionalmente essencial, pois a criança pode sintetizar colina. A colina é adicionada às fórmulas infantis destinadas ao recém-nascido pré-termo, com o mesmo teor do leite materno. Seu teor máximo é extrapolado do teor de segurança utilizado em adultos (Klein, 2002).

A displasia broncopulmonar (DBP) é uma doença pulmonar crônica que comumente se desenvolve na criança prematura como resultado da SDRRN e da ventilação mecânica e do oxigênio utilizados no tratamento dessa condição. Em decorrência do papel da vitamina A, no sentido de facilitar o reparo tecidual, e por causa dos relatos de recém-nascidos pré-termo com baixas reservas de vitamina A, sugere-se a utilização de grandes doses suplementares de vitamina A para a prevenção da DBP. 

Um estudo sugere que fornecer injeções IM de vitamina A a 5.000 unidades/dia, 3 vezes por semana, durante o primeiro mês de vida, a lactentes pré-termo de EBPN diminui a incidência de DBP (Tyson et al., 1999). Os médicos podem ou não usar essa suplementação. A decisão baseia-se na incidência de DBP em seu berçário, ausência de benefícios adicionais comprovados, aceitabilidade do uso de injeções IM e disponibilidade de vitamina A parenteral (Darlow e Graham, 2011). 

A apneia da prematuridade ocorre quando a criança para de respirar por 20 segundos ou mais. A apneia pode ser decorrente da imaturidade da resposta da criança à respiração. A bradicardia, a desaceleração do ritmo cardíaco e a má oxigenação do sangue podem estar associadas à apneia. A medicação, cafeína, pode ser administrada diariamente, a fim de apneia da prematuridade. A cafeína estimula a criança a respirar, aumentando a sensibilidade do cérebro ao dióxido de carbono, estimulando o impulso respiratório central e melhorando a contração do músculo diafragma. A apneia também pode ser causada pela falta de oxigênio, por temperaturas ambientais frias ou quentes, medicamentos ou doença. Deve-se determinar a causa da apneia, a fim de fornecer o tratamento correto
ao recém-nascido pré-termo. 

Administra-se sacarose oral às crianças para o manejo da dor durante procedimentos como exames de sangue por punção do calcanhar ou punção venosa. O sabor da sacarose pode liberar endorfinas, mas o modo como a sacarose ajuda no tratamento da dor não é claro.

Transição da alimentação parenteral para a alimentação enteral:

É benéfico introduzir a alimentação enteral para o recém-nascido prétermo o mais precocemente possível, porque as mamadas estimulam o desenvolvimento e a atividade enzimática gastrointestinal, promovem o fluxo de bile, aceleram o crescimento das vilosidades do intestino delgado e promovem a motilidade gastrointestinal madura. 

Essas dietas enterais iniciais também podem diminuir a incidência de icterícia colestática e a duração da icterícia fisiológica. Podem ainda melhorar a posterior tolerância à alimentação no lactente pré-termo.
Às vezes, utilizam-se dietas iniciais pequenas apenas para preparar o intestino, não se destinando a otimizar o consumo enteral de nutrientes até que a criança demonstre tolerância à alimentação ou esteja clinicamente estável.

Ao fazer a transição da alimentação parenteral para a alimentação enteral, os nutricionistas devem manter a alimentação parenteral até que a alimentação enteral esteja bem estabelecida, a fim de manter a ingestão adequada de líquidos e nutrientes. Em recém-nascidos de muito baixo peso, pode levar de 7 a 14 dias para que se forneça a alimentação enteral completa, e pode demorar ainda mais para lactentes com intolerância alimentar ou doenças. As crianças menores e mais enfermas geralmente recebem incrementos de apenas 10 a 20 mL/kg/dia. Recém-nascidos pré-termo maiores e mais estáveis são capazes de tolerar incrementos de 20 a 30 mL/kg/dia.

Necessidades nutricionais: alimentação enteral

A alimentação enteral é a preferida para o recém-nascido pré-termo porque é mais fisiológica que a alimentação parenteral e nutricionalmente melhor. 
É benéfico iniciar uma pequena quantidade de alimentação adequada com leite materno sempre que possível (Ahrabi e Schanler, 2013). No entanto, determinar quando e como fornecer a alimentação enteral muitas vezes é difícil. Isso envolve levar em conta o grau de prematuridade, a história de insultos perinatais, a condição clínica atual, a função do sistema gastrointestinal, o estado respiratório e várias outras questões individuais (Tabela 42-11).


Os lactentes pré-termo devem ser alimentados o suficiente para promover crescimento semelhante ao de um feto com a mesma idade gestacional, mas não demais a ponto de se desenvolver toxicidade por nutrientes. Embora as necessidades nutricionais exatas do recém nascido pré-termo sejam desconhecidas, existem várias diretrizes úteis. 
Em geral, as necessidades do lactente pré-termo são mais elevadas que as de crianças nascidas a termo, pois o pré-termo tem menores reservas de nutrientes, diminuição na capacidade de digestão e absorção, e uma taxa de crescimento rápida. O estresse, a doença e determinados tratamentos para doenças podem ainda influenciar as necessidades nutricionais. 
Também é importante lembrar que, em geral, os requisitos nutricionais enterais são diferentes dos requerimentos parenterais.

Energia
As necessidades energéticas do recém-nascido pré-termo variam de acordo com fatores biológicos e ambientais. Estima-se que seja necessária uma dose de 50 kcal/kg/dia para assegurar as necessidades energéticas de manutenção, em comparação a 105 a 130 kcal/ kg/dia para o crescimento (Tabela 42-12). 
No entanto, as necessidades energéticas podem ser aumentadas por estresse, doença e crescimento rápido. Do mesmo modo, as necessidades energéticas podem ser reduzidas se a criança for colocada em um ambiente térmico neutro (temperatura ambiente em que a criança gasta menor quantidade de energia para manter a temperatura corporal). É importante considerar a velocidade de crescimento em relação ao consumo energético médio. 
Alguns recém-nascidos pré-termo podem precisar de mais de 130 kcal/kg/dia para sustentar uma taxa adequada de crescimento. O lactente prematuro com EBPN ou aqueles com DBP muitas vezes precisam dessas quantidades aumentadas. A fim de fornecer uma quantidade tão grande de energia para as crianças com capacidade limitada de tolerar grandes volumes de líquidos, pode ser necessário concentrar a alimentação a um teor > do que 0,8 kcal mL (24 kcal/oz-onça) (Quadro 42-12).

Proteínas

Devem-se considerar a quantidade e a qualidade das proteínas ao determinar as necessidades proteicas do recém-nascido pré-termo. Devem-se fornecer aminoácidos a um teor que atenda à demanda sem induzir à toxicidade por aminoácidos ou proteínas.

Utilizou-se um modelo fetal de referência para determinar a quantidade de proteína a ser ingerida, a fim de coincidir com a quantidade de proteína depositada no tecido fetal recém-formado (
Ziegler, 2011). Para alcançar essas taxas de acreção fetais, deve-se fornecer proteína adicional, compensando, assim, as perdas intestinais e as perdas obrigatórias pela urina e pele. Com base nese método para determinar as necessidades de proteína, o consumo aconselhável é de 3,5 a 4 g/kg/dia. Essa quantidade de proteína é bem tolerada. Para a criança com EBPN, recomenda-se o consumo de até 4,5 g/kg/dia de proteínas nas mamadas (Agostoni et al., 2010; Koletzko et al., 2014; Tudehope et al., 2013).

A qualidade ou o tipo de proteínas são considerações importantes, pois o recém-nascido pré-termo tem necessidade de aminoácidos distintas da dos nascidos a termo, por causa da imaturidade das vias enzimáticas do fígado. A composição dos aminoácidos das proteínas do soro do leite, que difere da composição da caseína, é mais adequada para lactentes pré-termo. O aminoácido essencial cisteína é mais altamente concentrado nas proteínas do
soro do leite, e o lactente pré-termo não sintetiza bem a cisteína. 
Além disso, os aminoácidos fenilalanina e tirosina são mais baixos, e o lactente pré-termo tem dificuldade para oxidá-los. Ademais, a acidose metabólica diminui com o consumo de fórmulas em que predomina o soro do leite. Por causa das vantagens da proteína do soro do leite para o lactente pré- termo, deve-se optar, sempre que possível, pelo leite materno ou por fórmulas que contenham predominantemente proteínas do soro do leite.

A taurina é um aminoácido sulfônico que pode ser importante para o lactente pré-termo. O leite materno é uma rica fonte de taurina, e essa substância é adicionada à maior parte das fórmulas infantis. Os recém-nascidos pré-termo e a termo desenvolvem baixa 
concentraçãoões plasmáticas e urinárias de taurina sem uma fonte dietética. O recém-nascido pré-termo pode ter dificuldade em sintetizar a taurina a partir da cisteína. Embora nenhuma doença clara tenha sido relatada em lactentes alimentados com fórmulas pobres em taurina, o baixo teor de taurina pode afetar o desenvolvimento da visão e da audição (Klein, 2002).

Deve-se fornecer energia em quantidade suficiente para possibilitar que as proteínas sejam utilizadas para o crescimento, e não apenas para o gasto energético. Recomenda-se o consumo de 2,5 a 3,6 gramas de proteínas por 100 kcal. A ingestão inadequada de proteínas limita o crescimento, enquanto a ingestão excessiva provoca concentração plasmática elevada de aminoácidos, azotemia e acidose.













Fonte:

1. Krause - Alimentos, Nutrição e Dietoterapia. 14ª Edição, Ed. Elsevier, 2018.