Paradigma moderno: um estilo de vida saudável e mudanças comportamentais, restrição calórica, aumento do gasto energético e a cirurgia bariátrica trazem o desejável emagrecimento a muitos pacientes.
No entanto, interromper esses comportamentos de estilo de vida devido a fatores sociais, comportamentais, financeiros, etc e as complicações após a cirurgia resultam em ganho de peso.
Os cientistas identificaram vários mecanismos que são cruciais no controle do equilíbrio energético e da ingestão de alimentos. Estes abrangem o trajeto leptina-melanocortina, o esquema opióide, o sistema que envolve substâncias semelhantes ao glucagon, o peptídeo-1 (GLP-1) e seu receptor (GLP-1R), e o eixo do fator de crescimento de fibroblastos 21 (FGF21) junto com seu receptor FGFR1c/β-klotho. Análogos do GLP-1 e agonistas do GLP-1R exercem uma redução no peso e efeito hipoglicêmico. Como o GLP-1 é facilmente degradado pela dipeptidil peptidase 4 (DPP-4) in vivo, vários análogos sintéticos do GLP-1 foram projetados para serem resistentes à degradação, imitarem o hormônio natural GLP-1 e exercem um efeito de estimulação no GLP-1R. O GLP-1RA estimula a secreção de insulina e e inibe a liberação de glucagon.
Estas substâncias surgiram como elementos cruciais na redução de peso, diminuindo a "fissura" por alimentos, mitigando os desejos alimentares, diminuindo o consumo calórico, aumentando a sensação de saciedade e promovendo um melhor controle sobre hábitos alimentares.
Entretanto, tem surgido uma dúvida: “Haverá uma perda de peso sustentada após a descontinuação dos agonistas do GLP-1 no tratamento da obesidade?"
Fatores que influenciam a recuperação de peso após uso dos análogos do GLP-1:
Durante a perda de peso, diversas alterações biológicas compensam e previnem a manutenção da perda de peso a longo prazo, e a recuperação do peso é comumente observada. Embora mudanças no estilo de vida ajudem a melhorar o controle do peso e a manter a perda de peso, a farmacoterapia é indicada como uma estratégia adjunta para o controle da perda de peso. No entanto, a farmacoterapia de longo prazo é necessária para manter o peso sendo que a perda e cessação ou retirada da terapia leva a recuperação de peso mesmo com intervenção contínua no estilo de vida [4].
Tais observações foram feitas naqueles que começaram com os GLP-1RA e os descontinuaram.
Alguns fatores foram identificados como responsável pela recuperação do peso após a cessação do tratamento, incluindo o SNC, deterioração da atividade das células secretórias de hormônios e adaptação hormonal transitória à perda de peso.
1. Adaptação hormonal transitória à perda de peso
O equilíbrio entre o consumo de energia e os gastos desempenha um papel fundamental na regulação do peso corporal. O SNC, principalmente o hipotálamo orquestra esse mecanismo interpretando sinais hormonais periféricos que se originam de uma rede conectada do trato gastrointestinal, pâncreas, e tecido adiposo. A limitação calórica desencadeia respostas compensatórias, como quedas significativas no consumo de energia junto com níveis alterados de leptina e da colecistocinina. Além disso, há um aumento observado nos níveis de hormônio grelina, bem como do apetite e queda nas concentrações de leptina. Em uníssono, estes fatores estimulam a recuperação do peso.
Descobriu-se que a quantidades de leptina livre tem implicações na facilidade do emagrecimento com os análogos do GLP-1. No entanto, permanece incerto se as mudanças manifestadas durante o período de redução da massa corporal envolvendo hormônios controladores do apetite persistem ao manter um peso corporal baixo por longo período.
Houve uma tendência notável de rápida recuperação de peso após a descontinuação da semaglutida e de outras drogas, conforme detalhado em vários estudos [2]. A a razão por trás dessas flutuações permanece obscura; ainda é incerto se denotam uma compensação de curto prazo à escassez de energia. Curiosamente, muitos estudos destacaram que diversas modificações prevalecem por até um ano após perda de peso [3] ou mesmo 6 anos. Estas investigações sugerem o papel potencial da continuação dos análogos do GLP-1 no controle do equilíbrio fisiológico e hormonal corporal. Isso sendo temporário cessaria assim que o tratamento for interrompido, levando à recuperação de peso.
2. Incapacidade das células do SNC de regular o ganho de peso na ausência dos GLP-1RAs
O mecanismo preciso atribuído aos GLP-1R e a regulação do peso corporal é difícil de entender devido as múltiplas vias que regulam a ingestão de alimentos e o consumo de energia. Injeções intracerebroventriculares e estudos envolvendo administração central de GLP-1 demonstraram a participação direta do SNC no controle alimentar, consumo e saciedade, regulando assim o peso corporal. A função do GLP-1 no equilíbrio da gestão de energia está bem estabelecido. Este hormônio peptídico é sintetizado predominantemente por células L no intestino e em neurônios que residem no núcleo do trato solitário (NTS), localizado no rombencéfalo. Parker e colaboradores demonstraram que os níveis de GLP-1 no plasma e os neurônios que o produzem aumentam em resposta a ingestão de refeições.
As informação fornecidas por esses estudos mostra os caminhos envolvidos no efeito emagrecedor dos GLP-1RA, sua retirada poderia ter um efeito de desregulamentação sobre o controle do SNC no controle da ingestão de alimentos e, assim, na reversão do peso emagrecido [4].
Vários estudos relatam que o uso de GLP-1RA por dois anos pode ter um impacto profundo na prevenção do reganho de peso [5,6]. Contudo, ainda é necessário confirmar quanto aos efeitos adversos do uso contínuo dos GLP-1RA nas nas células do SNC e sua retirada.
Estamos com 15 anos de uso dos GLP-1 RA e seu número está expandindo progressivamente. No entanto, estão sendo levantadas preocupações em relação aos sintomas de sua retirada como a recuperação de peso, comorbidades de volta a linha de base e efeitos adversos devido ao uso prolongado destes agonistas. Estudos que delineiam os mecanismos do modo de ação dos GLP-1RAs na perda de peso e outras doenças são louváveis. Entretanto, é imperativo realizar investigações sobre o uso de GLP-1RA e uma melhor compreensão dos mecanismos de ação sobre os impactos da abstinência e a conduta das células que expressam os receptores de GLP-1. Com uma preocupação semelhante em paralelo, são necessários estudos clínicos para estudar a longo prazo a segurança de GLP-1RAs existentes e novos que estão surgindo.
A retirada dos GLP-1RA após 2 anos, impactaria permanentemente na regulação da ingestão de alimentos e peso corporal reduzido?
Fonte:
1. Ahmed IA bin. A Comprehensive Review on Weight Gain following Discontinuation of Glucagon-Like Peptide-1 Receptor Agonists for Obesity. Journal of Obesity 2024, Article ID 8056440, 8 pages https://doi.org/10.1155/2024/8056440.
2. L. Sjostrom, A. Rissanen, T. Andersen et al., “Randomised placebo-controlled trial of orlistat for weight loss and prevention of weight regain in obese patients.” The Lancet 1998;352(9123):167–172.
3. Sumithran, L. A. Prendergast, E. Delbridge et al, “Long-term persistence of hormonal adaptations to weight loss”. New England Journal of Medicine 2011;365(17):1597–1604.
4. Secher, J. Jelsing, A. F. Baquero et al., “The arcuate nucleus mediates GLP-1 receptor agonist liraglutide-dependent weight loss.” Journal of Clinical Investigation 2014;124(10):4473–4488.
5. F. Lopez-Jimenez, W. Almahmeed, H. Bays et al., “Obesity and cardiovascular disease: mechanistic insights and management strategies. A joint position paper by the World Heart Federation and World Obesity Federation.” European Journal of Preventive Cardiology 2022;29(17):2218–2237.
6. T. A. Wadden, T. S. Bailey, L. K. Billings et al., “Effect of subcutaneous semaglutide vs placebo as an adjunct to intensive behavioral therapy on body weight in adults with overweight or obesity: the STEP 3 randomized clinical trial.” JAMA 2021;325(14):1403–1413.