Tradutor: Claudio L. Barbosa MD, MSc
Médico Católico: CRM-27.104
Mestre em Medicina Interna pela FAMERP-SP
Médico Nutrólogo-Rede MaterDei de Saúde. Uberlândia-MG
Nós frequentamos Grupos de Jovens e nos enganjamos na Coordenação Diocesana da Pastoral da Juventude, na década de 1.980.
Recordamo-nos bem dos valores e princípios que eram ensinados pelos muitos pastores da época. Na nossa época, ouvíamos insistentemente que a Igreja era retrógrada, que o "sistema precisava ser mudado" não como na revolução bolchevique, armada, mas pela "tomada" dos grêmios estudantis, dos Diretórios acadêmicos, das Associações de moradores, das Pastorais sociais, dos Conselhos paroquiais, da Política. Mal sabíamos que se tratava da infiltração e revolução cultural proposta pelo filósofo comunista Antônio Gramsci como "forma de mudar o mundo para melhor".
São João Paulo II e o então Prefeito da Sagrada Congregação para a Doutrina de Fé, Cardeal Joseph Ratzinger eram duramente e frontalmente atacados (não pense que apenas o Papa Francisco foi criticado). Ao anunciar a encarnação a Sao José (Mt 1:20-21), o Anjo lhe diz: “José, filho de Davi, não tenha medo de receber Maria como esposa, porque ela concebeu pela ação do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, e você lhe dará o nome de Jesus, pois ele vai salvar o seu povo dos seus pecados". Nada mais do que isso, levá-los de volta ao Pai e, deste modo, proporcionar vida plena e em abundância. Não fala que Ele veio para tomar o poder, promover luta de classes, igualdade social e "salvar a natureza". Também não fala que só pecavam os ricos e poderosos, mas o "seu povo" como um todo.
Hoje, passados 30 anos, vemos surgir um forma diferente de expressar a Fé e a busca por sentido na vida. O jovem e futuro Santo millennial de nossa Igreja, Carlo Acutis, faleceu no início do século XXI, tempo marcado pela apostasia, especialmente na Europa. Seu testemunho exemplifica bem um fenômeno interessante. A geração de nossos filhos, felizmente, tem descoberto um jeito irreverente de ser Igreja, de buscar a salvação, sendo basicamente e simplemente como Carlo, Católicos (NT-nota do tradutor).
Foi publicado no início de 2025, um estudo impactante sobre o ressurgimento da Fé Católica no reino Unido, pela Bible Society, intitulado The Quiet Survival (o reviver silencioso) [4].
Em uma sociedade ultrasecularizada, como a Britânica, onde a maioria se declara não crentes, ainda sobrevivem 48% que se declaram crentes e entre estes, 5 seculos após o Cisma Protestante, os católicos estão aumentando, em todas as faixas etárias. A maior surpresa, porém vem dos jovens com menos de 35 anos, a chamada geração milenium e Z, duas faixas etárias onde os jovens católicos são o dobro de seus pares anglicanos (41% x 20%) apesar de a confissão anglicana ser a religião oficial do estado britânico.
A coautora de "The Quiet Revival" [4], Dra. Rhiannon McAleer, afirma que o relatório mostra que o que as pessoas acreditam sobre o declínio da Igreja não é mais verdade. "Estas são descobertas impressionantes que invertem completamente a suposição amplamente difundida de que a Igreja na Inglaterra e no País de Gales está em declínio terminal", disse ela.
"Embora algumas denominações tradicionais continuem enfrentando desafios, temos visto um crescimento significativo e generalizado na maioria das expressões da Igreja — particularmente no Catolicismo Romano e no Pentecostalismo. Atualmente, há mais de 2 milhões de pessoas a mais frequentando a igreja do que há seis anos."
O relatório descobriu que 12% dos entrevistados, o equivalente a 5,8 milhões de pessoas, disseram que frequentam a igreja pelo menos uma vez por mês em 2024, acima dos 8%, ou 3,7 milhões de pessoas, em 2018, com o maior aumento entre aqueles com menos de 25 anos [1].
Mais homens do que mulheres vão à igreja
O Quiet Revival mostra que os homens (13%) estão mais propensos a frequentar a igreja do que as mulheres (10%). E, além da reversão do declínio da igreja, a Igreja também está se tornando mais diversa etnicamente, com uma em cada cinco pessoas (19%) vindo de uma minoria étnica. Quase metade dos jovens negros de 18 a 34 anos (47%) agora frequenta a igreja pelo menos uma vez por mês, de acordo com o Quiet Revival.
Também é ótimo ver que a leitura da Bíblia e a confiança na Bíblia aumentaram, assim como o crescimento da Igreja. Cerca de 67% dos cristãos que frequentam a igreja leêm a Bíblia pelo menos uma vez por semana fora da igreja.
Segundo a diretora do estudo Quiet Revival, trata-se de pessoas com práticas cristas efetivas concluindo que a Igreja está vivendo um momento emocionante de crescimento no qual a principal caracteristica é praticar a Religião de forma mais intencional.
Os jovens não apenas frequentam mais a igreja, como também demonstram níveis acima da média de afeição pela espiritualidade, pela Igreja e pela prática espiritual. Este grupo de jovens de 18 a 24 anos é o mais propenso a orar regularmente, com 40% afirmando que oram pelo menos uma vez por mês. Mais da metade deles (51%) se envolveu com alguma prática espiritual nos últimos seis meses, em comparação com 42% dos mais velhos. Eles também são o grupo mais interessado em aprender mais sobre a Bíblia, com 37% dos jovens de 18 a 24 anos afirmando estar curiosos para descobrir mais sobre ela.
Ponto chave: 35% dos jovens de 18 a 24 anos dizem que existe ‘definitivamente um Deus ou um poder superior’
No entanto, isso não se refere apenas ao desenvolvimento pessoal, e também observamos que os frequentadores de igrejas são mais propensos a participar ativamente de atividades destinadas a beneficiar a comunidade ao seu redor. Os frequentadores de igrejas são mais propensos a se voluntariar, doar para bancos de alimentos e contribuir para causas beneficentes, demonstrando o efeito positivo da fé cristã em suas vidas – e o impacto que um aumento na frequência à igreja pode ter na sociedade como um todo.
Ponto chave: 79% dos frequentadores de igrejas concordam que é importante para eles tentarem fazer a diferença no mundo
Com grande parte da população, em particular os jovens, lutando pela saúde mental, contra a solidão e a perda do sentido da vida, a Igreja parece estar oferecendo uma resposta. Descobrimos que os frequentadores de igrejas são mais propensos do que os não frequentadores a relatar maior satisfação com a vida e um maior sentimento de conexão com a comunidade do que os não frequentadores. Eles também são menos propensos a relatar que se sentem frequentemente ansiosos ou deprimidos – especialmente as mulheres jovens.
Ponto chave: 63% dos frequentadores de igrejas de 18 a 34 anos dizem que se sentem próximos das pessoas em sua área local, em comparação com 25% dos não frequentadores de igrejas da mesma idade
O jornal inglês The Catholic Herald cita o caso de uma jovem de 21 anos, Catherine Sullivan, que se converteu ao catolicismo com apenas 17 anos. O que levou ela a se converter? Ela conta que ficou chocada ao ver como todo mundo seguia as opiniões predominantes em questoes de ética sexual como aborto, pornografia, contracepção, etc. Estudando o Catecismo da Igreja Católica, ela percebeu que a única doutrina que se mantia firme frente as modas da época era a Doutrina Católica. Diz ela: "Esses chamados princípios rígidos revelaram-me que esta Igreja tinha que ser a verdadeira". Em outras palavras, são as verdades rígidas que atraem os jovens e não o suavizar dos ensinamentos da Igreja para agradar o mundo.
Fortalecida pelo apoio caloroso que recebeu de muitos jovens após o seu testemunho explícito de Fé Católica na Universidade, Catherine garante que os jovens como ela esperam da hierarquia católica não é um questionamento relativista da verdade. Pelo contrário. Assim, ela decidiu fazer um apelo urgente. Ela apela as autoridades eclesiásticas para que "percebam que os jovens que vêm a Igreja não o fazem para que a Igreja se adapte ao mundo, mas precisamente para que a Igreja, no meio do mundo, permaneça fiel ao seu ensinamento secular". Ela implora aos Bispos e aos Padres para que entendam que a experiência de um católico, hoje, de 20 anos, é radicalmente diferente daquela de 30 ou 40 anos atrás. Porque o jovem católico hoje quer um refúgio do bombardeio constante de idéias liberais a que é submetido na universidade, no trabalho, na mídia, as vezes na família e entre amigos. Ela conclui com palavras que deveriam fazer pensar muitos de nossos pastores: "O que a hierarquia de Igreja hoje não entende sobre os jovens católicos é precisamente isto: eles querem ser Católicos sem consessões e sem capitulações. Apenas a Fé como nos foi dada por Cristo há mais de 2.000 anos.
Um renascimento silencioso (Quiet Revival) está ocorrendo em quase todos os lugares. Infelizmente, é notoriamente excluído da discussão sobre o processo Sinodal, monopolizado pela velha esquerda católica, cega os sinais dos tempos. Catherine Sullivan não hesita em acusar, em seu artigo, o processo Sinodal de ter distorcido o ideal dos jovens. "Participei pessoalmente, diz ela, de reuniões sinodais onde pessoas, geralmente acima de 60 anos, me disseram que o que jovens querem é uma Igreja mais aberta, inclusiva, mais tolerante. Tenho a leve suspeita que isso é o que eles queriam da Igreja quando tinham 20 e poucos anos".
Finalmente, citamos um ensaio da revista The World Catholic Report argumentando que algo estranho está acontecendo no coração da Europa. Algo está se agitando [2]. O que está acontecendo, o que está se agitando, é a agitação do povo europeu contra a ascendência decadente que domina o continente há décadas. As elites liberais não entendem realmente as pessoas comuns, nem gostam delas. Elas descartam ideias populares como "populistas", um termo que, de alguma forma, supostamente conota algo negativo. Pode tal desprezo pela maioria "deplorável" ser considerado democrático em algum sentido significativo?
Não há dúvida de que os nativos europeus estão se mostrando decididamente inquietos. Eles não estão satisfeitos com o humanismo secular que os líderes da corrupta União Europeia apresentam como "valores ocidentais". Estão descontentes com o relativismo radical, que é um eufemismo para o hedonismo desenfreado. Estão começando a perceber que a política do Orgulho está precedendo a queda daqueles que a defendem.
Eles buscam algo diferente. Algo melhor. Algo mais saudável. Muitos europeus, milhões deles, buscam as soluções políticas oferecidas por partidos populistas. Isso é ótimo, mas não é suficiente, nem é, em última análise, a resposta para o mal-estar da Europa, sua decadência. A única solução real e sustentável para os problemas da Europa é um retorno aos verdadeiros "valores ocidentais" da cristandade. "A Europa retornará à Fé", escreveu Hilaire Belloc, "ou perecerá". O que é necessário é uma ressurreição da Europa da Fé.
Felizmente, pela graça de Deus, muitos europeus estão começando a entender e concordar com a sabedoria que Belloc defendeu há um século. Mais precisamente, e graças a Deus, eles não estão apenas entendendo e concordando com essas palavras de sabedoria, mas estão agindo de acordo com elas, retornando à Fé de seus pais.
Nesta Páscoa de 2025, a Igreja na França batizou mais de 10.000 adultos, um aumento de 45% em relação ao ano anterior. Este é o maior número desde que a Igreja Católica na França começou a manter registros. Além dos 10.384 batismos de adultos, mais 7.400 jovens entre 11 e 17 anos também foram batizados. Ainda mais encorajador é o fato de que a média de idade daqueles que buscam o batismo e a recepção na Igreja está diminuindo.
Fonte:
1. Catholics set to exceed Anglicans for first time since Reformation due to younger churchgoers. The Catholic Herald 2025, april 9th. Disponível em: https://thecatholicherald.com/catholics-set-to-exceed-anglicans-among-churchgoers-for-first-time-since-reformation/. Acessado em 23-04-25 às 10:10 h.
2. Pearce J. The Resurrection of Europe? The Catholic World Report 2025, april 21th. Disponível em: https://www.catholicworldreport.com/2025/04/21/the-resurrection-of-europe/. Acessado em 23-04-25 as 15:45 h.
3. White J. I’m delighted to see gen Z men in the UK flocking back to church – I just hope it’s for the right reasons. The Guardian 2025, april, 21th. Disponível em: https://www.theguardian.com/commentisfree/2025/apr/21/gen-z-men-church-community-activism-online-radicalisation. Acessado em 23-04-25 as 17:20 h.
4. McAleer R, Barward-Simmons R. The Quiet Revival. Bible Society 2025. Disponível em: https://www.biblesociety.org.uk/research/quiet-revival. Acessado em 23-04-25 as 17:55 h.
5. Loredo J. Os sinais da Ressurreição da Fé Católica nessa Páscoa. Instituto Plínio Correa de Oliveira. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=oNxaIPH7PWg&t=405s. Acessado em 23-04-25 as 18:03 h